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Bruno Mendes

A lúcia-lima

“Maybe I could have learned how to fly / But my wings never sprouted” - Holding Absence em In Circles

Nasce hoje e agora uma menina do outro lado do mundo, filha de pais estrangeiros separados pela idade mas não pela vontade de vencer. A ser real, ficaríamos por aqui, passariam os créditos, todo o processo de sair da sala, Onde vamos jantar, Não sei, Como assim não sabes, Pois não sei, decide tu, Porque tenho de decidir, enfim, mais do mesmo, mas não sendo, estando nós a escrever prosa poética, podemos puxar a fita do tempo para trás e para a frente, a nosso bel-prazer, prever uma vida pacata para esta menina, não obstante um susto aqui e ali, crescerá forte, em sossego, conhecerá um rapaz modesto das redondezas, por ali ficará, terá um ou dois filhos, uma casa nos subúrbios, um cão, um jardim, dois carros, um vizinho, um leque normativo, uma vontade enorme de passar aos seus a vontade de vencer, sob a forma de um amor incondicional com condições, como o de todos nós, sem perceber quem não se percebe nem deixa perceber, enfim, mais uma vida, uma vida boa, diríamos, enquanto a vemos verter nesta tarde de domingo três folhas de lúcia-lima numa panela de água a ferver, e nos sentimos todos de novo em casa.

Ela chora. Está viva! Está viva!