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Bruno Mendes

A torre

Ainda que plenamente convencido da coincidência do que está prestes a acontecer, este rapaz caminha nesta zona de coexistência com a batida cardíaca acelerada. Qualquer pedestre ou condutor menos distraído que partilhe com ele este piso reconhece, porém, a intencionalidade desta viagem, que há de ter sido forjada nas profundezas de um subconsciente fantástico.

Este caminho é conhecido pela imponente torre que se ergue perto da praça central. Hoje, à semelhança de outros dias, uma rapariga aparece no andar mais distante, de cabelos curtos, pele cetinosa e semblante fechado. Por fim os dois trocam olhares, sentem um arrepio lancinante e, como que por vontade alheia, envolvem-se ali mesmo, na torre, oxalá longe da janela de pedra e num sítio suficientemente alegórico para que se lembrem de si mesmos apenas em parte.

No dia seguinte, o rapaz acorda atormentado. Ele sabe que isto é errado. Ele não esqueceu o passado. A rapariga chora. Ela sabe que isto é errado. Ela não esqueceu o passado. Ele chora, também.