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Bruno Mendes

A letargia do sonho

Nesta noite de inverno clara, tão bonita, sento-me, só, lamentando os compromissos de amanhã, o sufoco de hoje ou o indiscernimento do passado. Sento-me mas sento-me num sítio privilegiado. Daqui vejo-me diferente, partindo para um lugar em concreto que julgo ter uma finalidade. Aqui, como em qualquer lado, é certo, mas aqui, especialmente, fantasio com o que aconteceria se te olhasse um pouco mais, como há bocado, me retribuísses de novo o olhar, e falássemos de tudo e de nada.

Já não sonho tanto. A vida passa por nós e deixa-nos céticos, tristes e passivos. Parece que não mais acreditamos na força do amor e dos momentos. Mas ela existe. Não desaparece. O que acontece é que se torna nesta energia muito letárgica, dispersa pelo espaço e pelo tempo, que não magoa nem excita em vertigem. Existe, apenas.