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Bruno Mendes

Prosa ao vento

“[…] don’t you know I want to help you but I don’t know how?” - Sleep Token em Are You Really Okay?

Chegamos a esta pastelaria pelas onze da manhã. O tempo está ligeiramente nublado, com uma brisa a querer agora mostrar-se enquanto nos sentamos na mesa.

Começamos da mesma forma que ontem. Falas-me que o governo está em vias de cair, que a tua irmã não sabe que roupa vestir, que tocaste com o teu carro a estacionar, mas eu não te ouço. Está um vento desgraçado, reclamo, Mas que vento, respondes, Este vento, Não está vento nenhum. Confuso, mal te ouço, mas tu continuas, Pois não sei mais que fazer sobre a casa. O vento não abranda.

Paro um pouco. Pergunto-te se estás bem. Surpresa, respondes, soluçando, Na verdade, mal dormi hoje, não consigo comer, sinceramente, não sei o que vai ser de nós, não sei o que vai ser de mim.

Num repente, o vento parou. Ouço-te claramente. Não consigo, porém, mexer-me. Alguns segundos depois, levanto-me, com um azedo de boca, pago a conta. Quatro euros e meio, como ontem. Também como ontem, choro um bocadinho por dentro.