logo

Bruno Mendes

Destino das frases

Há frases que se destinam a nunca ser ditas. Plácidas, inertes, oscilam desde o vulgar Desculpa até ao complexo Amo-te, e ficam presas por largos anos na consciência.

Outras há que deambulam caprichosamente pelos caminhos enviesados da mente, deslizam até ao palato e não descansam enquanto não se ouvem a alto e bom som, formando uma onda de vitupérios ou atestados de ignorância.

Não quero com isto dizer que a culpa dos desastres comunicacionais é das frases. A culpa é do homem que as explana de forma impessoal e impensada, ou do homem que se limita a dizê-las.

Escrevendo, posso trabalhar quiçá os meus sentimentos, contar histórias ou recriá-las, viver a realidade ou idealizá-la, questionar o conceito de normalidade, pronominalizar os textos sem que me julguem por falta de abertura ou obscuridade, usar uma máscara que me proteja das vicissitudes do mundo ou que me desmascare completamente.

Creio que há frases que se destinam apenas a ser escritas.