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Bruno Mendes

Filme de super-heróis

Nunca me interessei por cinema fantástico, mas admito que gostaria de um tipo de filme específico, começando num senhor de casaco preto, deprimido. Embrenhado nas profundezas da noite, debate-se consigo mesmo. A paixão secretista que tem vivido é corrosiva, ameaça destruir a sua família, mas ele não consegue parar, sente uma atração grotesca pela rapariga que conheceu há um ano no bar, muito mais nova e obstinada do que a sua mulher.

Em sentido contrário, vem um jovem. Desenha na sua mente o retrato de uma cidade fresca, futurista, repleta de velocípedes e veículos a hidrogénio. Mortalidade zero. Uma sociedade evoluída, desapegada da altivez do passado, verdadeiramente inclusiva, além das palavras. Uma sociedade em que o amor é simples. Jovens aos beijos, famílias jamais separadas. Um cenário prazeroso, delirante.

A luz do candelabro projeta-se sobre a face do rapaz. Num instante, vê passado e futuro fundirem-se, fantasticamente, na sua mente. Imagina um mundo perfeito e infinitamente belo. Imagina uma vida plena de sentido e realizada a tempo inteiro, uma verdadeira utopia, qual filme de super-heróis.