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Bruno Mendes

Egocentrismo

Poucas vezes saio de casa a tempo para qualquer tipo de compromisso. Podem acusar-me de desorganização e desmazelo, mas tem tudo a ver com a necessidade de cumprimento de uma inabalável rotina que não cabe no fino intervalo horário entre o toque do despertador e o início oficial de mais um aborrecido dia.

Depois de me despedir, triste, do templo máximo do descanso, é minha obrigação escolher a roupa a usar nas horas que se seguem. Mais fácil seria se vestisse o mesmo uniforme todos os dias, azul escuro, preto piano, milimetricamente ajustado ao corpo, estabelecendo um harmonioso equilíbrio entre conforto e estilo. Seria encaixado no grupo dos alienados, hippies, mas poderia chegar, finalmente, a tempo aos encontros. Um compromisso interessante, definitivamente a considerar num futuro próximo.

Ainda que invista algum do meu precioso tempo na escolha do mais apropriado vestuário, a probabilidade de que alguém repare realmente na inteligência e elegância da combinação do dia é desprezável. Eu compreendo isso. Eu também não me preocupo em particular com aquilo que os outros vestem, fazem ou dizem. Passo mais tempo a falar do que a ouvir, tendo em conta que o meu timbre é muitíssimo mais agradável do que a monocórdica voz do comum mortal.

Olhando para trás no final do dia, geralmente não me recordo de grandes intervenções memoráveis da minha pessoa, mas certamente continuarei a intervir ativamente no debate casual que é a vida quotidiana. Díficil de evitar.