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Bruno Mendes

Duração de um semáforo

Três da manhã. Toda uma cidade concentrada aguardando a luz verde do semáforo. O chão trepidante, o suor quente escorrendo. Foi ali que ela morreu.

Foi abalroada. Deslizou pelo ar como uma pena, e caiu. O pavimento ficou pintado de vermelho, um vermelho fresco de uma personalidade inapta.

Num repente, levo a mão ao peito. Sinto um pulsar intenso, e uma lágrima no canto do olho. Choro a inação e a passividade perante o desabar que se afigurava de uma rapariga só, impotente perante a hegemonia da normalização, da banalidade, da submissão, da estupidez.

Desabou, e ali ficou. Frágil, não sobreviveu aos trabalhos de reanimação, nem ressuscitou com as mensagens sentidas de desgosto acutilante. Amanhã não voltará a iluminar a minha manhã, nem me dará forças para arrancar perante um semáforo verde, ele que nem existe, ela que vive ainda, eu que nada faço.