logo

Bruno Mendes

Espírito mecanizado

O vento leva os romances nunca vividos, num sopro rápido que se faz sentir neste bungalow, pelas três da manhã. A porta está quase fechada mas deixa passar um resquício de luz que me mantém acordado, atento a uma voz única.

Não consigo compreender o conceito de amor, estar associado a uma pessoa, há quem diga que sou algo, não consigo explicar, Fria, Talvez, Porquê, Não sinto empatia pelas pessoas.

Não fico perplexado por tais palavras, porque haveria de ficar, já vi isto, vi, senti, sinto isto comigo mesmo, julgam-me imutável, inquebrável, dizem de fonte limpa que gosto dela, ora como é a fonte limpa, se nem eu sei, nem eu sei o que é o amor, existe realmente ou é uma encenação da inevitável reprodução da espécie, um mero artefacto biológico?

O meu espírito mecanizado funciona por padrões e o ciclo repete-se, sem fim à vista.

Não sei se um dia vou perceber porque sopra este vento, mas pouco importa isso agora, as horas passam a correr, e amanhã o pequeno-almoço é tomado cedo.