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Bruno Mendes

Pedacinho de democracia

Assistindo a um pseudodebate, dou por mim a pensar porque decidi não participar, ou porque mais uma vez me remeti ao silêncio quando deveria falar, eu que tão bem falo quando deveria remeter-me ao silêncio.

Chego a casa, meto os fones, começo a andar. O álbum é novo, saiu há dias, e é a oportunidade ideal para parar de ouvir as mesmas quatro faixas todos os dias. A guitarra e a bateria envolvem-me, quiçá, da mesma forma que o latir do cão da casa junto à nacional; afinal, não são mais do que uma forma de suprimir o silêncio.

Regresso à plateia. Ponho a mão no ar, mas tento não levantá-la muito, não vá parecer demasiado intelectual.

Antes de mais, senhor deputado, queria discordar profundamente da afirmação do representante de uma das listas, e não interessa quem, porque não estou aqui para fazer ataques pessoais, mas dizer que um debate é feito de factos para mim é ridículo. Um debate é um exercício político, um exercício democrático, antónimo de objetividade. Negá-lo seria abdicar de um pedacinho de democracia. Depois, questionar até que ponto a lista vencedora estará disposta a negociar a inclusão de propostas da lista adversária no seu programa, porque, sejamos francos, qualquer das seis propostas faz todo o sentido, e se queremos ver estas medidas serem aplicadas, temos de as fortalecer, porque há todo um processo que tem de acontecer, desde já ganhar a nível nacional, mas também conquistar o apoio da opinião pública.

Recebo uma qualquer resposta, rodo a chave, e entro em casa.